Monday, January 30, 2017

POEMA DO PROVÁVEL PRAZER


Amo a brancura translúcida de tua pele
Como me fere
Com a doce entrega
O azul do bico de teus seios,
Fontes de mel, nascedouro de prazeres,
Precipícios de desejos insones,
Brinquedos lúdicos de sonhos infantis.
Ainda sinto teus beijos...
A quentura macia de teus lábios, de tuas mãos.
Tua boca ainda passeia no meu sono
Como se me perseguir,
Me cansar, me esvair
Fosse o único intuito por ti desejado,
Como se teu objetivo fosse apenas
Me deixar eternamente excitado
Esperando por um prazer provável
E nunca provado
E ainda guardo os ardores insaciados
Dos desejos por tanto tempo guardados,
Que soltos se expandiram
E ainda estão atrás de ti
Como fantasmas de paixão
Que rondam a terra desconhecida
Atrás da flor de gozo,
Tesouro guardado entre tuas pernas,
Escondidos campos de neves
Onde nunca chegaram as gotas de minha língua,
Seca ainda, chorosa, à míngua
Do sêmen que há de brotar,
De germinar sem fim
Do amor que há em ti,
Que há em mim
E pretende te ver despida, cansada, moída,
Menina, mulher
Exausta de gritar, gemer, dizer
Que ainda mais quer,
Numa infindável festa, 
Na qual, se possível,
Se possa até morrer
De prazer. 

Ilustração: E Deus criou a Mulher - Sapo


Mais uma poesia de Ángel González

Eso no es nada                                 
Ángel González

Si tuviésemos la fuerza suficiente
para apretar como es debido um trozo de madera,
sólo nos quedaria entre las manos
um poco de tierra.
Y si tuviésemos más fuerza todavía
para presionar com toda la dureza
esa tierra, sólo nos quedaría
entre lãs manos um poco de agua.
Y si fuese posible aún
oprimir el agua,
ya no nos quedaría entre las manos
nada.

Isso não é nada

Se tivéssemos a força suficiente
Para apertar como é devido um pedaço de madeira,
só nos restaria entre as mãos
um pouco de terra.
E se tivéssemos mais força, todavia
para pressionar com toda intensidade
essa terra, só nos restaria
entre as mãos um pouco de água.
E se fosse possível ainda
oprimir a água,
já não nos restaria entre as mãos
mais nada.

Ilustração: Freepik



Uma poesia de Gualatieri

1.                                                                                    
Mariangela Gualatieri 

Quando vuole pregare
lei va alla piscina comunale
mette la cuffia e gli occhialini
entra nell’acqua ma non è capace
di domandare, o forse non ci crede.
Allora fa una bracciata e dice
eccomi, poi ne fa un’altra
e ancora eccomi. Eccomi dice
ad ogni bracciata. Eccomi a te
che sei acqua e cloro
e questi corpi a mollo come spadaccini.

E nello spogliatoio, dopo, alla fine
prova sempre una gioia –
quasi l’avessero esaudita
di qualche cosa che non ha chiesto
che non sapeva. Che mai saprà
cos’era.

1.

Quando vai rezar
ela vai à uma piscina pública
mete uma touca e os óculos
entrando na água, mas, não é capaz
de pedir, ou, talvez, não seja capaz de crer.
Então dá uma braçada e diz
estou aqui, e dá mais outra
e de novo, aqui estou. Aqui estou em ti
que sei água e cloro
e a estes corpos molho como espadachins.

E no vestiário, depois, ao fim
sente sempre uma alegria-
quase como se houvessem atendido
qualquer coisa que não há pedido
que nem sabia. Que nunca saberá
o que era.

Ilustração: My Pink Diary - UOL Blog

Mais uma poesia de Quasimodo

 
BASTA UN GIORNO
A EQUILIBRARE IL MONDO

Salvatore Quasimodo

L’intelligenza la morte il sogno
negano la speranza. In questa notte
a Brasov nei Carpazi, fra alberi
non miei cerco nel tempo
una donna d’amore. L’afa spacca
le foglie dei pioppi ed io
mi dico parole che non conosco,
rovescio terre di memoria.
Un jazz buio, canzoni italiane
passano capovolte sul colore degli iris.
Nello scroscio delle fontane
s’è perduta la tua voce:
basta un giorno a equilibrare il mondo.

BASTA UM DIA PARA EQUILIBRAR O MUNDO

A inteligência a morte o sonho
negam a esperança. Nesta noite
em Brasov, nos Cárpatos,
entre árvores alheias cerco no tempo
o amor de uma mulher. O calor cresta
as folhas dos álamos e eu
me digo palavras desconhecidas,
revolvendo terras da memória.
Um jazz escuro, canções italianas
passam reviradas sob as cores do arco-íris.
No bramido da fonte
se há perdido a tua voz:
basta um dia para equilibrar o mundo.


Ilustração: Medium

Uma poesia de Rodolfo Häsler


Souk-el-Hamra

Rodolfo Häsler

Si hubiese creado el mundo abigarrado
y alguien me pidiese cuentas por ello,
lo llevaría a oler la fruta aplastada en el suelo.
Desde el inicio tenía la certeza de que las hormigas
recorrían continuamente mis piernas, decididas,
como luna inmóvil en el recuadro de la plaza.
La mancha verde del gomero, por encima de la puerta,
hundida en la sombra, es testigo de mis visitas,
y el joven que soñaba con el cansancio de sus amantes,
regateando a gritos, como mercadería,
es vendido ante mis ojos en la impiedad de un gesto,
casi pornografía.
Qué alivio que esos aburridos europeos
hayan dejado de fotografiar la mezquita del viernes.
Metamorfosis de la vida,
así nombro lo que los muros atesoran,
pues una vez conoces el precio de las manzanas en el zoco
y qué dátiles transparentan la luz,
no hay ya modo de olvidar
ni razón para exaltar mayor encantamiento.

Souk-el-Hamra

Se houvesse criado o mundo borrado
e alguém me pedisse contas dele
o levaria a sentir o cheiro da fruta amassada no chão.
Desde o início tinha a certeza de que as formigas
percorriam continuamente minhas pernas, decididas,
como a lua imóvel no quadrado da praça.
A mancha verde do visgo, por cima da porta,
fundida na sombra, é testemunha das minhas visitas,
e o jovem que sonhava com o cansaço de suas amantes,
regateando aos gritos, como mercadoria,
é vendido diante dos meus olhos na impiedade de um gesto,
quase pornografia.
Que alívio que esses aborrecidos europeus
deixaram de fotografar a mesquita na sexta-feira.
Metamorfose da vida,
assim nomeio o que os muros enterram
pois, uma vez conheces o preço das maçãs no mercado
e que tâmaras transparecem na luz,
não há já como esquecer
nem razão para exaltar maior encantamento.

  
Ilustração: www.heideker-reiseblog.de

Tuesday, January 10, 2017

Uma poesia de Eleonora Requena

ME DICE LA ESPERA                                               
Eleonora Requena

Me dice la espera
no me aguardes
no sabrás
por donde vengo
ni a cual hora
en menoscabo
de tus noches

Ayer tuve los ojos
quebrantados
inaudita madurez
contemplativa
y no ver nada

yo me duermo
con los ojos encendidos

llega

ME DISSE AO PARTIR

Me disse ao partir
não me aguardes
não sei
por onde venho
nem a qual hora,
não vá perder
suas noites de sono

Ontem tive os olhos
extenuados
inaudita maturidade
contemplativa
e não vi nada

eu adormeci
com os olhos ardendo


chega

Ilustração: Clube dos Leitores. 

Monday, January 09, 2017

UM POEMA DE ANA MARÍA NAVALES

ANTES DE ESCRIBIR EL POEMA                                     
Ana María Navales

Antes de escribir el poema,
con el lápiz en la mano
y el silencio hecho palabra,
me pregunto a quién demonios
interesa si este mar
ya no es azul ni si mi vida
de hoy es la que antes era.
Y si es lamento
o violín lo que suena
ahora en mi casa.
O a quién irán estos versos
y quién se aventurará conmigo
buscando esa luz inútil
que conduzca a una salida.
Éste es un viaje
sin más brújula que el viento
ni más compañía
que este miedo y esta noche.

ANTES DE ESCREVER O POEMA

Antes de escrever o poema,
com o lápis na mão
e o silêncio feito palavra,
me pergunto a quais demônios
interessa se este mar
já não é azul nem se a minha vida
de hoje é a que antes era.
E se é um lamento
ou um violino que soa
agora na minha casa.
Ou a quem irão estes versos
e quem se aventurará comigo
buscando esta luz inútil
que conduza a uma saída.
Esta é uma viagem
sem mais bussola que o vento
nem mais companhia
que este medo e esta noite.


Ilustração: Tudo em Foco. 

Sunday, January 08, 2017

UMA POESIA DE LAUREN MENDINUETA


POEMA DE AMOR

                                        Para Jorge Luis Borges
Lauren Mendinueta

Me pesan
El bullicio y la injusticia
La marea turbia
Y el olor de un atardecer marino
Que no he de presenciar
Las largas despedidas
Y los encuentros fugaces
Algunas palabras
Y los silencios forzados por la distancia
La noche despoblada de ti
Que avanza indiferente
Hacia el abismo del día
Las letras que componen tu nombre
Inmensa pieza del universo que todo lo encierra
La cifra que define tu número
El género que marca tu cuerpo
El tiempo indefinido de tu existencia.

POEMA DE AMOR

Me pesam
O barulho e a injustiça
A maré turva
E o odor de um entardecer marinho
Que não hei de presenciar
As longas despedidas
E os encontros fugazes
Algumas palavras
E o silêncio forçado pela distância
A noite despovoada de ti
Que avança indiferente
Até o abismo do dia
As letras que compõem teu nome
Imensa peça do universo que o todo encerra
A cifra que define o teu número
O gênero que marca o teu corpo
O tempo indefinido de tua existência.


Ilustração: Palavras ao vento. 

DO SONHO INTERROMPIDO DE UMA NOITE DE VERÃO


Tuas carícias, os teus beijos me perturbam 
o sono noturno...
Sinto o teu perfume
invadindo todos os meus sentidos.
Ainda me perpassa a sensação
de tua boca,
naquela hora louca
em que, impulsivamente,
me surpreendestes
com uma ousadia
que querer ter eu queria.

Minhas noites,
no momento, as passo em claro
pensando, unicamente, em te acariciar
desnuda,
a me olhar com o mesmo olhar
que parece de céu e mar e é mais luminoso,
mais translúcido.
Olhar que transmite a inocência infantil de uma criança,
Embora, nem me passe pela mente,
nada de inocente.

Meus pensamentos
são de minhas mãos acariciando teu corpo,
encontrando na dureza de tuas pernas
a flor encantada da paixão ,
que hei de beijar na ilusão
de que seja possível esgotar este desejo,
que sei há de ficar maior,
na medida em que a quentura
de teus seios de neve
me tornarem mais feliz
do que já fui com o teu amor inesperado.

Nos sonhos sinto a sensação
de que é real os meus lábios nos teus lábios,
as tuas mãos, novamente, buscando
o cetro do desejo fremente,
mas, oh! loucura das loucuras,
beijo, entre tuas pernas, criatura
a sede do prazer
e trago de lá, da taça do amor,
todo o prazer que há,
no instante
em que tenho o desprazer de acordar! 

Ilustração: Livros Biografias e Frases


Saturday, January 07, 2017

Duas poesias de Alda Merini


A Emily

Alda Merini 
Fiore di solitudine e di canto
amalgama di cammino, crescita
insana di cecità di versi.
Adesso che si muove la mitraglia
del mio povero cuore tu sei salva
da ogni sbandamento.

A Emily

Flor de solidão e de canto
amálgama de caminhos, crescimento
insana cegueira de versos.
Agora que se movem os pedaços
de meu pobre coração te salvas
de qualquer abandono.

Alda Merini 

Strappate la poesia dal canto,
l’albero dalle voci,
le chimere dal sogno,
strappate me da me stessa,
sì che io veda il mio cuore, palpito
sanguigno e dolce,
scendere nella valle.
I miei misteri furono quelli di Orfeo
e di altri pitagorici asceti
col loro messaggio di pace
dentro le paludi disfatte.

Arrancada a poesia do canto,
a árvore das vozes,
das quimeras do sonho,
arrancam-me de mim mesma,
para que veja meu coração, palpitante
sanguíneo e doce,
baixar ao vale.
Meus mistérios foram os de Orfeu
e de outros pitagóricos ascetas
com sua mensagem de paz
por pântanos desfeitos.

Ilustração: pinterest